terça-feira, 10 de novembro de 2009

We can be Heroes, just for one day

Quem nunca teve um herói? Uma personalidade que fosse fonte de inspiração, um protagonista de algum romance que tornasse o pacato cotidiano num mar de sacadas geniais?
Para assuntos desse tipo, nada melhor do que apelar para a Psicanálise, mais especificamente para Carl Gustav Jung. Ele trabalha com a idéia dos Arquétipos, que seriam imagens psiquicas do inconsciente coletivo. Arquétipo vem do grego arché, que significa: principal, origem, fonte. Seria o modelo original de alguma coisa.
Dentro dessa idéia, Jung identifica uma "instância arquetípica" que podemos chamar de Sombra, ou "o lado instintivo oculto e reprimido. É a fonte de energia que mobiliza tudo que há de melhor e de pior no ser humano. Representa tudo que foi suprimido no desenvolvimento da Persona (máscara social). São os conteúdos inconsientes."
A Sombra reprimida se manifesta na forma de projeção. As idéias e sentimentos contraditórios que permeiam a fronteira entre consciente e inconsciente acabam sendo, literalmente, projetados na "tela branca" do ambiente, podendo até mesmo afetar nossa percepção da realidade. Em outras palavras, tanto aqueles pensamentos sórdidos, maldosos e antiéticos que nos invadem e que somos incapazes de admitir para nós mesmos (devido a uma repressão moral e culturalmente estabelecida), quanto aquele anseio por ter atitudes admiráveis que expressam a integridade em sua essência, estão sempre...no outro...
O jardim do vizinho ou é sempre mais verde, ou é sempre incrivelmente podre.
Mas o que isso tem a ver com heróis? Bem, todos aqueles nossos impulsos negligenciados estão num dinamismo constante, buscando uma "descarga", alcançada por meio da projeção. Um herói, seria uma espécie de "ser olimpiano dotado de talentos especiais, capaz de resolver qualquer problema, realiza feitos extraordinários, tem grandeza de alma e nobreza de caráter, que nos faz sentir seguros e também...insignificantes." Ou seja, aquele conjunto de características coletivamente apreciadas (e que estão diluídas entre os diversos povos) são concentradas em um único ser, fazendo com que o mecanismo de defesa do ego acabe não cumpindo sua finalidade, muito pelo contrário, passamos a admirar o outro, por ser possuídor de algo que não conseguimos encontrar em nós mesmos (mas que está lá!)
Sendo assim, acredito que a desconstrução de um herói é sempre aconselhável, pois nos ajuda a amadurecer, a aceitar aquilo que "pulsa" em nosso inconsciente. Talvez a real função do herói seja justamente essa, a função organizativa: assim que definirmos nossas bandas favoritas, poetas, escritores, personagens fictícios, poderemos ter uma noção razoável de quais virtudes valorizamos (ou desprezamos, no caso de vilões), e assim agregar estes elementos para nossa vida psiquica consciente para então fornecer ao nosso comportamento confuso uma certa coerência atitudinal.

Nenhum comentário:

Postar um comentário